sábado, 21 de janeiro de 2012

"Hola Gringa!"

Hoje fui acordada por uma barriga em tumulto. Percebo que o dia vai ser duro e tomo um comprimido na esperanca que a minha barriga acalme rápido. Visto o bikini e preparo-me para uma manha na piscina. As criancas nao podiam estar mais felizes. Assim que chegamos à piscina, a histeria foi geral. O desafio foi puxá-los a todos para o chuveiro antes de saltarem para a piscina. As reccoes foram as mais variadas. Desde os mais aventureiros que se atiravam sem medo, àqueles que nos agarravam com toda a sua forca mal o primeiro dedo do pé tocava a água. O coracao sempre nas maos, a contá-los constantemente e um sorriso gigante (a alegria deles era simplesmente contagiante).

Saio de mim e observo aquelas criancas. A maior parte delas de cuecas, corsarios e t-shirt, porque nao têm roupa de praia. Penso em como basta tao pouco para fazer alguém feliz, por vezes. A ideia de que há criancas que nunca tinham visto uma piscina era absusrda para mim. Arrumo de vez as minhas ideias pré-concebidas para um canto. Sinto-me verdadeiramente feliz e privilegiada por poder presenciar aquele momento. E é entao que a minha crianca interior fala mais alto e acedo aos pedidos incessantes... Bomba!!!

A manha passou a voar, como todos os bons momentos. De regresso ao Comedor e após mais um extenuante almoco vou com a Ena a Chincha, a cidade mais próxima daqui. Apercebo-me do quao pequena é a vila onde estou. De volta ao transito, as motas que furam por todos os lados, os moto-táxis a buzinar, os vendedores ambulantes a chamar por nós. Sinto que entrei numa segunda dimensao. Sinto tambem que devemos ter vestido a roupa ao contrario porque todos nos olham de alto a baixo. "Hola gringas", torna-se na frase da tarde. Rimo-nos. Há música por todo o lado e sinto-me mesmo bem disposta. Sinto-me num filme "mexicano" com uma banda sonora a rigor. Damos uma volta pelo mercado, sou apresentada ao senhor dos abacates (e que bons que sao), conheco os cantos mais baratos e divirto-me a observar todo o tipo de iguarias que se vendem por ali.

Uma volta de colectivo mais tarde e estamos de volta o Comedor. A Miranda vem ter comigo e diz para ir com ela comprar cerveja. Ia-me comecar a explicar, para nao me assustar, que nao é sempre assim. Faco uma cara triste e pergunto porque nao. Rimo-nos juntas e penso... Agora sim, vai ser perfeito (Ai e pensar que vinha apara aqui fazer uma "desintoxicacao". Nao que beba muito mae e pai!! É raro tocar em alcool... normalmente bebo por uma palhinha!).
Compramos a cerveja e pede-me que a guarde no meu saco. "Eles falam", diz ela. Quem, pergunto eu. Ri-se e diz-me "É uma vila pequena e nós trabalhamos com criancas!". Sorrio, sinto-me envergonhada por um nano-segundo e voltamos sorridentes para o Comedor.

De regresso falo com os meus pais, a minha irma, o meu primo e os meus padrinhos. Estavam todos juntos a celebrar o aniversário da minha irma. Sinto um aperto no peito tao grande e um peso enorme por estar tao longe. A minha irma comeca a chorar e o ar torna-se dificil de respirar. mas nao quero que fiquem tristes por isso sorrio e digo umas asneiras para que se riam. Canto os parabéns com eles e despeco-me. As lágrimas caem-me pelo rosto mas tenho que ser forte. Já sabia que ia ter saudades. Trago-os sempre comigo e sei que me trazem sempre com eles.

Subo as escadas e vou ter com o resto do pessoal. Abrimos a cerveja e brindamos à minha irma. Nao sei se é do calor ou das mudancas todas, mas dois copos e meio depois sinto-me tonta. Rimo-nos. Partilhamos algumas histórias. Falamos da crise na Europa (Sim, até aqui, é verdade!). E decidimos ir jantar fora. Pedem todos o mesmo e estava prestes a embarcar cegamente em mais uma experiência sensorial, quando me dizem que é coracao grelhado! O meu ABS dispara e decido pedir a lista. Figados e intestinos depois, decido-me pelo coracao. Quem diria? Parece mesmo bife grelhado! Regamos a refeicao com Inca Cola, uma espécie de coca-cola amarela fluorescente que sabe a pastilha elastica e relaxamos. Terminado o jantar, rumo a casa com o meu vizinho do lado, o Emil.

Ainda nao acabei de pousar o saco e batem-me ao vridro de casa (Ou há quem lhe chame porta). Espreito do meu quarto e vejo os contornos de um homem com uma camisa aberta ate ao umbigo. Entro em panico. Ainda com o coracao na boca e sem saber o que fazer, comeco a ouvir o meu nome. Respiro fundo e rio-me da minha figura. É o siñor Elvio, o meu "papá peruano". Quer-me conhecer e dar as boas vindas. Quer tambem que saiba que o que quer que precise posso contar com eles e que vao tomar bem conta de mim. Agradeco toda a simpatia e hospitalidade genuina e despeco-me com um abraco.

De regresso ao quarto sinto um pequeno som no meu saco, mas como tinha um saco de plástico lá dentro ignoro (Ou adio inconscientemente o óbvio). Estou tao cansada que atiro o saco para o chao. Deito-me e adormeco profundamente.

2 comentários:

  1. Oi Gringa...
    ...e que falta fizeste...nunca se festejou nada nesta casa sem tu...
    És insubstituível...
    Mamãe

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  2. Inca Cola?!! Ah ah ah... Muito bom! O que me gargalhei!! Na verdade, a origem dela foi aí...nas montanhas! ; )

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