Quarta de manha. Acordo bem disposta e cheia de energia. Tomo banho, visto-me e abro o saco em cima da cama para me preparar para sair. De repente vejo algo preto e enorme a passear dentro do meu saco. Berro. Sinto vontade de chorar. Comeco a suar das maos. Fecho os olhos e encosto-me à parede. Tenho vontade de fugir (Mas pressinto que nao ia longe, pois o meu porta-moedas esta no saco). Vou para o quarto ao lado e tento ser racional. Ok. Respiro fundo, faco-me mulher e vou chamar a minha vizinha do lado. Assusta-se com o meu ar de pânico, mas entredentes vai percebendo o que se passa. Segue-me até casa, entra no meu quarto e trata do assunto. No fim só me diz com um sorriso timido "Que también lo tengo mucho miedo!". Petrifico de vergonha e desfaco-me em desculpas. Sorri e diz apenas que estamos aqui uns para os outros. Sorrio de volta e agradeco mais uma vez.
O resto da semana passa a voar. Entre as manhas com as criancas e o som reconfortante do meu nome nas suas vozes. Fazemos jogos. Dancamos. Corremos. Jogamos a bola. Abracos, muitos abracos. Beijinhos. Apercebem-se que no meu relogio de pulso ainda trago a hora portuguesa. "Siñorita Gisela, que horas son en Portugal?". Perguntam vezes sem fim e ficam sempre maravilhados com a resposta!
As tardes sao passadas a preparar as actividades do dia seguinte e a discutir os casos mais complicados. Apercebi-me entretanto que uma das criancas tem uma severa descoordenacao motora, apesar dos seus 11 anos. Alerto-os para esse facto e disponibilizo-me para trabalhar com ela.
Sou posta a par de historias verdadeiramente tristes. Sinto impotência. Sinto que sou pouco para o que precisam. Sinto o quao desconcertante é a realidade que me rodeia. Sinto vergonha por todas as vezes em que me queixei da minha vida.
Entre uma nova deliciosa ida à piscina, desta vez mais ordenada que a primeira e o Ceviche (Um prato tipico à base de calamares e peixe cru aos "pedacinhos", absolutamnete delicioso), a semana vai passando.
Sinto-me numa montanha russa de emocoes e sensacoes. Cada vez que o telefone toca o coracao aperta. Sinto que nao vai ser fácil estar tanto tempo longe das pessoas que amo. Sinto-me mal, por vezes, porque penso no quanto as estou a magoar com a minha ausência. Mas tambem sei (sabem) que tenho que fazer isto e a cada dia que passa sinto o quao precisa sou. Tenho plena consciencia de que nao posso mudar o mundo, mas acredito que posso (e vou) fazer a diferenca na vida de algumas destas criancas (Sei que elas já fazem a diferenca na minha). Devo-lhes isto a elas, a mim e a todos os que "deixei para trás".
Os momentos mais sérios vao sendo intercalados com longas conversas condimentadas com o fantástico Guacamole da Nicole e os indiscrititiveis cozinhados do Emil. Há jantares que se tornam verdadeiras experiências gourmet. O ambiente é de camaradagem e respeito mútuo. Sao uma verdadeira familia e percebo que serao, sem duvida, o meu apoio nos próximos meses.
Siñorita Gisela, não nos está magoando não...
ResponderEliminarTodos temos a certeza de quão útil vai ser por essas bandas...
Apenas morremos de xoiiiiiiiiiiiiiiiiiidades...
A lot delas
Mamãe
Não vivas nessa ilusão, Gi! Magoarias sim, se não partisses... A ferida só vai doendo...mas é das que não deixa marca! Tranquila. ; p
ResponderEliminar